Whatsapp
Banner serviços

Boa Leitura

<   Voltar

Saúde da visão das marisqueiras da Lagoa Mundaú

Publicado em 2 de abril de 2018

Em meio a tantos problemas causados pelas condições precárias e a exaustiva da jornada de trabalho, uma notícia que “ameniza” a preocupação das marisqueiras é a de que a fumaça do fogo à lenha, em contato com os olhos, causam irritações passageiras, segundo informa o médico oftalmologista Mário Jorge Santos.

De acordo com ele, a princípio, não existe na biografia médica nenhuma referência que leve ou que fale sobre uma possível repercussão dos olhos na exposição a longo prazo dessa fumaça. “A não ser que o latão de tinta utilizado no cozimento do sururu, antes dele ser despincado, contenha algum produto químico não removido na lavagem do recipiente que, em evaporação, pode causar uma irritação que será menor ou maior de acordo com o período de exposição”, enfatizou o médico.

O especialista acredita que para as marisqueiras utilizarem as latas de tinta, elas realizaram uma limpeza muito bem feita nos resíduos químicos, pois, caso contrário, essa fumaça pode vir contaminada com o produto químico desse latão, o qual não é o recipiente apropriado para fazer o cozimento de alimento.

“De qualquer forma, o que pode trazer com relação aos olhos seria essa fumaça contaminada com gases do produto químico que eventualmente pudesse ter no latão. Quanto à exposição da fumaça a lenha, o que ela vai causar, como causaria no nariz ou na boca se tiver aberta – por suas estruturas sensíveis e revestidas por mucosas -, é uma irritação. O olho fica mais ardido e mais vermelho porque essa fumaça vai fazer com que haja um ressecamento maior dessas estruturas que precisam estar sempre umedecidas e, especificamente, os olhos são umedecidos por nossas lágrima”, explicou o oftalmologista, informando ainda que existem dois tipos de lágrima: a que vem uma emoção, choro, etc; e a que mantém o olho continuamente lubrificado, esta, na exposição continuada com a fumaça, pode ficar comprometida e a consequência disso é um olho vermelho, mais irritado, com ardência e sonolência mais cedo.

CONJUNTIVITE QUÍMICA

Além disso, o olho em contato com a fumaça química pode causar ainda o que os médicos chamam de conjuntivite química, que eventualmente acometem pessoas que trabalham com gazes, que em temperatura alta podem desprender e evaporar com a fumaça. “Essa irritação e ardência costuma ser passageira e controlada com o uso da lágrima artificial ou o soro fisiológico”, recomendou Mário Jorge acrescentando ainda que não se tem registros de que essa exposição tenha levado a uma cegueira ou déficit visual.

Mesmo a fumaça não ocasionando problemas mais graves a saúde dos olhos, o especialista alerta para alguns cuidados que as marisqueiras devem ter, como o uso de óculos de proteção frontal e periférica, semelhantes aos que os mergulhadores usam, que na opinião do médico poderiam minimizar o desconforto após o dia de intenso trabalho. Desconforto esse que também pode ser minimizado pelo uso do soro fisiológico ou da lágrima artificial para lavar os olhos. O médico lembra que os óculos de grau, para quem os usam, podem ser um ligeiro anteparo para a fumaça, porém, é sabido que sua proteção é apenas frontal e a lateral livre para o contato da fumaça com os olhos.

Além dos óculos de proteção, o oftalmologista recomenda ainda que no dia a dia do trabalho, as marisqueiras observem a posição do vento e procurem ficar contra ele, evitando ao máximo, o contato dos olhos com a fumaça da queima da lenha.